Sunday, April 26, 2020

As bombas Atómicas no Japão Foram Destinadas a Terminar a Guerra e a salvar vidas?

Há alguns anos, um escritor americano chamado Greg Mitchell escreveu um livro elucidativo sobre a enorme ocultação forjada pelo governo dos Estados Unidos sobre o lançamento da primeira bomba atómica no Japão, e a censura a que foi sujeito o primeiro filme de Hollywood sobre esse assunto. (1) O governo tinha na sua posse muitas filmagens ao vivo realizadas pelas Forças Armadas Americanas, sobre Hiroshima e Nagasaki, que Mitchell diz que teria chocado os espectadores, com ruínas fantasmagóricas e bebés com as caras queimadas. Ele inclui muitas das fotos originais no seu livro, bem como pormenores dos enormes esforços para esconder os factos, a evidência do uso de bombas atómicas e a tapeçaria de mentiras criadas após o facto, para justificar esta atrocidade e apresentá-la como um mal necessário.

O filme de Hollywood surgiu porque a indústria cinematográfica queria alertar os povos do mundo sobre os perigos futuros de uma corrida ao armamento nuclear, alegando Mitchell,  que os primeiros argumentos apresentavam uma imagem chocante que, de facto, teria provocado o desarmamento, mas a versão final de Hollywood sobre a versão da narrativa oficial era que a bomba tinha sido absolutamente necessária para terminar a guerra e salvar vidas americanas.
Ele escreve que, à medida que os roteiros foram rectificados, o lançamento das bombas tornou-se não só justificável, mas mesmo admirável. Robert Oppenheimer, o notável físico judeu e principal responsável pelo desenvolvimento da bomba, teve a certeza de que no filme, a sua personagem mostraria “humildade” e “amor à Humanidade”. Mas não foi bem assim. “Na primeira detonação bem-sucedida de uma bomba atómica, em 16 de Julho de 1945, “Oppenheimer ficou fora de si com o espectáculo. Ele gritou: “Eu transformei-me na Morte, no Destruidor de mundos.” (2)
O roteiro do filme foi alterado para mostrar o Presidente Truman angustiado com a decisão, quando, na verdade, se vangloriava, orgulhosamente, de nunca ter deixado de dormir devido a esses factos, e escreveu ainda, numa carta a um crítico: “Não tenho dúvidas sobre o que quer que seja ”. (3)
Hollywood tinha começado a criação de mais um mito da História Americana. Pelas anotações de Mitchell, até pequenos detalhes do filme foram alterados para aparentar que o lançamento das bombas era justificado. As consequências da radiação nuclear foram desvalorizadas como sendo comuns e foram inseridas cenas fabricadas para retratar os bombardeiros americanos a ser fortemente bombardeados com fogo antiaéreo (o que era falso) para fazer o ataque parecer mais corajoso.
Foram produzidas alegações de que o uso das bombas atómicas reduziria a guerra num ano, o que era 100% falso, visto que os japoneses já tinham oferecido repetidamente para se render, assim como a argumentação de que o uso da bomba atómica economizaria, pelo menos, meio milhão de vidas americanas, que também era, evidentemente, falsa. De facto, o lançamento das bombas não salvou vidas americanas, pois já era bastante claro que nenhuma invasão do Japão seria necessária para efectuar uma rendição e, efectivamente, a perspectiva de uma invasão física nunca foi submetida a discussão. Mas esses lançamentos eliminaram, desnecessariamente, pelo menos, mais de um milhão de vidas japonesas, apesar da Wikipedia declarar pouco mais de 100.000.
Outro mito criado por Hollywood foi que as cidades alvos – Hiroshima e Nagasaki – tinham sido escolhidas pelo seu valor militar, mas, na verdade, ambas eram cidades inteiramente civis e foram escolhidas, apenas, porque não haviam sido bombardeadas antes e podiam demonstrar, claramente, o poder destrutivo desta nova arma.
O filme final foi apresentado “basicamente, como uma história verdadeira” para os inúmeros americanos que o viram. O New York Times designou-o como uma “reconstituição digna de crédito” e elogiou o manuseamento das questões morais de um “mal necessário”. Uma revista popular elogiou a sua “aura de autenticidade e significado histórico especial”. E o “bombardeio humanitário” de Hiroshima entrou na mitologia americana como História Americana autêntica. Mas não era.
Ellsworth Torrey Carrington, em ““Reflections of a Hiroshima Pilot/Reflexões de um piloto de Hiroshima” (4), citou o segundo piloto do B-29, que disse: “Depois da primeira bomba ter sido lançada, o comando da bomba atómica ficou com muito medo de que o Japão se rendesse antes de pudermos lançar a segunda bomba, então o nosso pessoal trabalhava dia e noite, 24 horas por dia, para evitar tal infortúnio.” Uma das maiores mentiras fabricadas para o filme, foi a história do Presidente dos EUA, Harry Truman, proclamar que antes dos lançamentos reais os EUA lançaram panfletos sobre o Japão para alertar a população do que “está para vir” como um meio de “salvar vidas”. Harrison Brown, que havia trabalhado na bomba, designou essa ficção dos folhetos de aviso como “a mais horrível falsificação da História”. A Wikipedia, a mentir como sempre, diz-nos: “Várias fontes dão informações contraditórias sobre quando os últimos folhetos foram lançados sobre Hiroshima, antes da bomba atómica.” Mas, na verdade, nenhum panfleto foi lançado em Hiroshima antes do bombardeio, em 6 de Agosto.
Hiroshima e Nagasaki não eram os alvos originais das primeiras bombas atómicas. O Major General Leslie Groves é geralmente responsabilizado pela sugestão de bombardear Kyoto, mas aparece bem documentado, que foi Bernard Baruch quem, persistentemente, exigiu que Kyoto fosse destruída por causa do seu valor cultural e histórico para o povo japonês; a sua destruição abriria uma ferida que nunca se curaria. Henry Stimson, então Secretário da Guerra dos EUA, recusou-se a aceitar Kyoto como alvo pela mesma razão, mas foi posto de parte. No entanto, Kyoto foi protegida pela Providência e por uma densa cobertura de nuvens que impediu os bombardeiros americanos de localizá-la com precisão suficiente, deixando-os avançar para as alternativas.
Em Maio de 1945, vários meses antes das bombas atómicas estarem prontas, os auto-proclamados “Mestres do Universo” realizaram uma reunião no Palace Hotel, em San Francisco, para discutir o fim da guerra no Pacífico. A questão era que o Japão já estava a apelar oficialmente pela paz e a opinião colectiva desses senhores era, de acordo com Edward Stettinius, então Secretário de Estado: “Já perdemos a Alemanha. Se o Japão desistir, não teremos uma população viva para testar a bomba … todo o nosso programa pós-guerra depende de aterrorizar o mundo com a bomba atómica … esperamos um  cálculo de 1 milhão no Japão. Mas se eles se renderem, não teremos nada. ”O conselho de John Foster Dulles foi o seguinte: “Então deve mantê-los em guerra até que a bomba esteja pronta. Isso não é problema. Rendição incondicional.” Stettinius respondeu: “Eles não irão concordar com isso. Eles juraram proteger o Imperador.” Resposta de Dulles: “Exactamente. Mantenha o Japão em guerra durante mais três meses, e podemos usar a bomba nas suas cidades. Terminaremos esta guerra com o medo puro de todos os povos do mundo, que se curvarão à nossa vontade.”(5) Hoje, muitos americanos gostam de justificar o uso de armas nucleares pela sua nação, no Japão, dizendo-nos que encurtou a guerra, totalmente confiantes de que a sua superioridade moral permanece intacta. Mas, na verdade, as bombas foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki, principalmente, como uma “oportunidade única na vida” de testemunhar os efeitos das explosões nucleares na população humana. Não se sabe amplamente que os EUA lançaram dois tipos diferentes de bombas – urânio e plutónio – nas duas cidades, sendo esses bombardeamentos experiências de laboratório ao vivo, para determinar as diferenças de rendimento e de efeito entre as duas. O Departamento de Energia dos EUA ainda especificam essas explosões como “testes”.
Após o lançamento das bombas, houve uma ânsia quase obscena da parte dos americanos em chegar a Hiroshima e a Nagasaki para ‘examinar e catalogar’ os resultados da sua nova monstruosidade. Ao conferir os relatos da presença americana nessas duas cidades após as explosões, não se pode escapar à conclusão de que os denominados “cientistas” eram quase tão irreflectidos como os estudantes ao ver a sua obra-prima da guerra e, moralmente, demasiado deformados, para ponderarem o horror que eles tinham consumado.
Quando as forças americanas entraram e ocuparam as duas cidades, imediatamente após o lançamento das bombas, a sua primeira ordem foi o  apagão completo das informações e a proibição da publicação de quaisquer relatórios sobre a destruição e sobre os seus efeitos, mantendo o monopólio totalmente controlado das informações.Os jornalistas e os ‘operadores de cameras (cinegrafistas) japoneses foram proibidos de fazer qualquer reportagem e ameaçados de julgamento em tribunal marcial e execução, se ousassem desobedecer. Todos os livros e relatos escritos sobre os lançamentos das bombas e os seus resultados, foram censurados e, na maioria das vezes, confiscados e destruídos pelos americanos. Até a necessidade de dar tratamento às vítimas foi proibida de ser relatada no Japão e, consequentemente, os japoneses praticamente não tinham informações sobre a condição das vítimas. Todos os médicos do Japão foram proibidos de se comunicar ou trocar informações sobre a devastação humana. “Os seus registos, pesquisas clínicas e outros dados foram suprimidos e confiscados. As forças armadas dos EUA também confiscaram todas as amostras de tecido danificado, pele queimada e irradiada, sangue e órgãos internos, de vítimas mortas e vivas.” Todas as informações foram total e completamente suprimidas.
Além disso, as autoridades americanas forçaram o governo japonês a recusar qualquer assistência médica oferecida pela Cruz Vermelha Internacional ou por outras agências porque, nas palavras de um autor, “se o animal de laboratório fosse curado, seria inútil para a pesquisa médica científica”. Os americanos também fizeram todo o possível para impedir que qualquer tratamento fosse dado às vítimas. A sua política declarada era: “No que diz respeito à assistência médica, quanto menos, melhor”. Os médicos japoneses, a lidar com o primeiro holocausto nuclear da Humanidade, estavam desesperados para ajudar as vítimas e descobrir tratamentos ou curas, mas foram rejeitados pelos americanos e proibidos de tentar qualquer tratamento. As vítimas feridas das primeiras explosões nucleares da História, foram verdadeiras cobaias destinadas apenas à observação.
Houve outra razão importante, mas nunca discutida, para escolher lançar bombas atómicas. Os americanos estavam a levar a cabo ataques de alto nível contra o Japão há algum tempo e, apesar de serem bem-sucedidos, ficaram desapontados com os resultados gerais. Temos bom conhecimento do bombardeio americano de Dresden, na Alemanha, e do seu deleite visível com os resultados dessa perversão, mas a História Americana enterrou-se silenciosamente e os americanos nunca tiveram de enfrentar o facto dos EUA terem conduzido uma campanha semelhante e de longa duração, contra o Japão.
Numa reunião, em 27 de Abril de 1945, o chamado “Target Committee”/“Comissão-Alvo” reuniu-se no Pentágono para discutir a lista de possíveis cidades japonesas para experimentar a bomba atómica. Tóquio foi eliminada porque, nas palavras do comissão, estava “agora praticamente toda bombardeada e queimada e, praticamente, é um monte de entulho, só com os terrenos do palácio em pé”. Os membros discutiram ainda o facto de que havia poucas cidades não danificadas no Japão, para uma demonstração do poder da nova arma atómica, observando que a sua política durante um ano, tinha sido bombardear “sistematicamente as cidades, tendo em mente, como objectivo principal, não deixar pedra sobre pedra.”
O General americano, Curtis LeMay, um dos assassinos patológicos mais talentosos da História, havia aprendido com o bombardeamento de Dresden e queria levar a cabo o seu próprio genocídio numa tapeçaria que oferecia muito mais potencial do que uma única cidade alemã. Por essa razão, conduziu uma intensa campanha de extermínio, durante um ano, contra o povo do Japão. Durante um ano inteiro, os americanos travaram uma campanha de bombardeio que incluiu quase 100 cidades japonesas, devastando as frágeis comunidades japonesas de madeira e papel. Essa campanha matou exponencialmente mais civis, do que nos dizem sobre Hiroshima e Nagasaki. É o mesmo Curtis LeMay que se gabaria, alguns anos mais tarde, de ter bombardeado e matado cerca de 40% da população civil da Coreia do Norte – sem motivo algum.
Os ataques anteriores de bombardeio a grandes altitudes nas cidades japonesas foram considerados pelos americanos  como “ineficazes”, de modo que LeMay mudou para ataques nocturnos usando bombas incendiárias e ordenou que os seus bombardeiros voassem a altitudes muito baixas (500 pés/150 mt) para garantir a destruição dos edifícios vulneráveis de madeira e papel do Japão e, é claro, para assegurar a destruição da população civil que neles residia. A sua ideia era que os ataques nocturnos e os bombardeios generalizados contra civis, eram uma medida apropriada para multiplicar a destruição e o terror. Naquela época, as defesas aéreas japonesas eram inexistentes e não permaneceu nenhum alvo militar útil; os americanos estavam, simplesmente, a “pacificar” uma população civil indefesa.
No caso mais célebre, “Operation Meeting-house”, os bombardeiros norte-americanos realizaram uma incursão nocturna em Tóquio que destruiu 50 km quadrados da cidade. O subúrbio de Shitamachi, no centro de Tóquio, tinha sido considerado o centro desse ataque, porque, nessa época,  a área continha a maior densidade populacional civil de qualquer cidade do mundo, com cerca de 750.000 pessoas a viver nos prédios de madeira, facilmente inflamáveis naquele distrito. LeMay queria realizar uma “experiência” sobre os efeitos do bombardeio, incendiando esta cidade virtual de papel. Logo após a meia noite, 334 Fortalezas voadoras enormes, os bombardeiros B-29, voando a uma altitude de apenas 150 metros, realizaram um intenso ataque de três horas que lançou meio milhão de bombas incendiárias M-69. Esses dispositivos incendiários, como aconteceu em Dresden, criaram uma imensa tempestade de fogo, atingida por ventos de 50 km por hora, que arrasou totalmente o distrito de Shitamachi e espalhou chamas por toda a restante cidade, destruindo quase 50 km quadrados de Tóquio.
Os bombardeiros B-29 para esses ataques de extermínio levavam uma mistura de explosivos incendiários que incluíam napalm misturado com fósforo branco, talvez a mais cruel e imoral de todas as armas já usadas em populações civis, tendo essa contribuição para a Humanidade sido criada e desenvolvida pela Universidade de Harvard. Os incendiários produziram tempestades de fogo semelhantes às de Hamburgo, na Alemanha, dois anos antes, e às de Dresden, apenas um mês antes. As temperaturas no solo em Tóquio atingiram 1.800 graus em alguns lugares. Os relatos de sobreviventes falam de mulheres correndo pelas ruas com bebés em chamas amarrados às suas costas, de pessoas a pular para dentro de piscinas para tentar escapar às chamas e a ser fervidas vivas. No seu livro “Guerra sem Misericórdia”/“War Without Mercy”, John Dower escreveu “Canais a ferver, metal derretido, prédios e seres humanos explodem espontaneamente em chamas”. Cerca de 65% da área comercial de Tóquio e cerca de 20% da sua indústria foram destruídos. Quase 300.000 prédios arderam até ao chão, somente em Tóquio. Este foi o ataque aéreo mais mortal da Segunda Guerra Mundial. Poucos escaparam desse inferno.
Houve relatos documentados de que, durante as três horas do ataque, havia grandes nevoeiros vermelho-sangue e um cheiro avassalador de carne humana em chamas, a subir no ar e a encher as cabines dos bombardeiros americanos de baixo vôo, que as equipas foram obrigadas a colocar as máscaras de oxigénio para impedi-las de vomitar. Tal era a carnificina humana. De qualquer maneira, essa acção foi genocídio e, no entanto, toda a confusão sórdida foi retirada de todos os livros da História dos EUA. O ajudante do General Douglas MacArthur, o Brigadeiro General Bonner Fellers, chamou o atentado de LeMay a Tóquio “um dos assassinatos mais implacáveis ​​e bárbaros de não combatentes, em toda a História”, mas LeMay estava orgulhoso da sua conquista no Japão, como estaria mais tarde, na Coreia, vangloriando-se de que ele “conseguiu queimar, ferver e assar até à morte bem mais de meio milhão de civis japoneses, talvez quase um milhão”, naquele único acontecimento em Tóquio. Após o sucesso desse primeiro ataque, LeMay estava determinado a continuar, declarando a sua intenção de que Tóquio fosse totalmente “queimada – varrida completamente do mapa” e prosseguiu na sua determinação homicida com repetidos ataques de bombas incendiárias, cobrindo uma área ainda maior do Japão. As bombas incendiárias desencadearam tempestades de fogo inimagináveis ​​nessas cidades, tempestades que criaram correntes de ar tão intensas que os bombardeiros às vezes eram carregados para altitudes até 10.000 pés. Esses ataques genocidas foram tão bem-sucedidos que os EUA estavam a ficar sem cidades para bombardear, os executivos da Força Aérea a reclamar que poucas cidades restantes valiam a atenção de 50 bombardeiros, enquanto eles  podiam colocar pelo menos 450 bombardeiros de cada vez. “A totalidade da devastação no Japão foi extraordinária, correspondendo à quase totalidade da população civil, sem defesa do Japão”.
Mas Tóquio foi apenas uma das muitas cidades bombardeadas por LeMay e pelos americanos. No total, quase 100 cidades japonesas e as suas populações civis sofreram o mesmo destino, cerca de 40 das principais cidades do Japão sofreram uma destruição de 50% a quase 100% e dezenas de outras, entre 25% e 50%, deixando, pelo menos, 30% da população japonesa sem abrigo até ao final da guerra. Esta orgia de ódio e assassinato que durou um ano, “levou a incineração em massa de civis a um novo nível, num conflito já caracterizado por derramamento de sangue sem precedentes”.
Inexplicavelmente, as estatísticas da população fornecidas pelos EUA sugerem que o número de mortos por todo esse bombardeio incendiário foi praticamente nulo, a população do Japão antes da guerra estava recenseada em 73 milhões e após a guerra em 72 milhões. (Outubro de 1940 – 73.000 milhões; Outubro de 1945 – 71.999 milhões). A Wikipedia é uma fonte destas estatísticas bem absurdas, mas existem muitas outras. De qualquer modo, só precisamos pensar. Além das baixas habituais da guerra, um ano inteiro de bombardeamentos intensos de quase 100 cidades, com taxas de destruição em média de 50% e depois com duas bombas atómicas, produzirá baixas em número maior do que zero.
Houve alguns ajustes maciços feitos nas estatísticas da população do Japão para o período imediatamente antes e durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez que nas comparações dos números do censo, os números da população civil e a contagem das mortes, muito poucas fazem sentido. Os americanos e os japoneses, até certo ponto, chegaram a reivindicar o número de mortos pelo bombardeio de Tóquio em apenas 35.000, o que é um absurdo, já que só a área de Shitamachi continha mais de vinte vezes esse número e foi destruída tão completamente – e tão rapidamente – que a população não poderia ter escapado. Esforcei-me para extrair os números anteriores do censo do governo japonês por cidade e, desses números, a população da cidade de Tóquio mostra uma redução de quase 60% entre 1940 e 1945, que é o que se esperaria: Outubro de 1944: 6.558.161; Outubro de 1945: 2.777.010. Estes números sugerem um número de mortos de quase quatro milhões, a maioria dos quais teria sido necessariamente vítimas directas do bombardeio. O primeiro bombardeio destruiu cerca de 50 quilómetros quadrados de Tóquio, mas LeMay realizou muitos ataques posteriores, em noites sucessivas que, finalmente, elevaram a área devastada total de Tóquio para mais de 150 quilómetros quadrados ou quase 60 milhas quadradas. Com ventos fortes, até 160 km/hora, criados perto do centro da tempestade, e uma incapacidade total de combater incêndios dessa magnitude, e considerando que a área relativamente pequena de Shitamachi continha cerca de 750.000 pessoas e constituía, apenas, cerca de 10% da área bombardeada pelos americanos, é ridículo  considerar somente a morte de 35.000 pessoas.
A partir de uma comparação de dados do censo anterior, amplamente publicados e provavelmente exactos, disponível em 40 das principais cidades do Japão, a diferença populacional entre as duas datas acima indicadas produz uma redução na população total de quase 50%, de cerca de 19.750.000 para 10.500.000, o que é o que seria de esperar e que indica cerca de dez milhões de mortes resultantes principalmente do bombardeamento de bombas incendiárias, nessas 40 cidades. Vários historiadores e cientistas políticos ofereceram explicações diferentes sobre o motivo pelo qual os americanos e os japoneses estariam ansiosos por mascarar os verdadeiros números de vítimas, mas as razões são mais óbvias. Os americanos estavam desesperados para destruir as provas de muitos dos seus crimes durante a Segunda Guerra Mundial, e controlaram totalmente a comunicação mediática do pós-guerra na Alemanha e no Japão, eliminando o acesso do público a informações precisas. E, como nas Filipinas, na Indonésia e noutras nações vítimas dos massacres militares dos EUA, os americanos destruíram e reescreveram os livros de História dessas nações, para tornar permanente a ignorância pública. Naturalmente, essa informação também se evaporou do registo histórico, o mundo já não está mais ciente de que os EUA são um dos grandes queimadores de livros e revisionistas históricos de todos os tempos. Gostaria de recordar aqui, a Historiadora indonésia Bonnie Triyana, que escreveu: “A nossa sociedade é uma sociedade alheia. Durante quase 50 anos, ninguém nos ensinou o que realmente aconteceu em 1965. Quase ninguém sabe que houve milhões de mortos”.
É improvável que esta exposição da História enterrada revele muita simpatia pelos japoneses, dada a sua conduta selvagem e patológica durante a mesma guerra, mas esta História não é sobre os japoneses; é sobre os americanos. É mais uma revelação da sede de sangue americana, não apenas de uma vontade, mas de uma vontade de deliberadamente atingir populações civis com uma intenção real de exterminar ou, pelo menos, de a esgotar de forma selvagem.
O bombardeio do Japão por bombas incendiárias é apenas um capítulo de um livro escrito durante mais de 200 anos. Foi precedido pela Alemanha e outros capítulos semelhantes e em breve seria seguido pela Coreia, pelo Vietname, pela Indonésia e por muitas outras nações. Durante toda a sua História, os americanos envolveram-se regularmente em orgias literais de massacres de populações civis em circunstâncias totalmente desprovidas de causa, matando pelo prazer de matar. Desde o primeiro desembarque de colonos europeus no Novo Mundo, os invasores, liderados por Cristóvão Colombo, exterminaram 125 milhões de pessoas pela pura alegria de matar, extinguindo toda a civilização Inca, Asteca e Maia, além de 90% dos aborígenes norte-americanos. Os americanos continuam com essa tradição desde então, estabelecendo um mundo seguro para a democracia, através do extermínio da sua população.
 Larry Romanoff

Artigo original em inglês :
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Larry Romanoff é colaborador frequente do CRM-CRG (Centro de Pesquisa sobre a Globalização).
Notas
(4) The Secret History of the Atomic Bomb; https://modernhistoryproject.org/mhp?Article=AtomicHistory

Larry Romanoff é um consultor de administração e empresário aposentado. Ocupou cargos executivos especializados em empresas de consultoria internacionais e possuía uma empresa internacional de importação e exportação. Professor Visitante da Universidade Fudan de Shangai, apresenta estudos de casos em assuntos internacionais a executivos especializados. Romanoff reside em Shangai e, actualmente, está a escrever uma série de dez livros, de um modo geral, relacionados com a China e com o Ocidente. Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com”.

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