“Experiências” biológicas, químicas e de radiação infligidas aos americanos
16 de Abril de 2020
Parte 1 de um artigo dividido em 2, que fornece os antecedentes e algum contexto necessário como introdução para o que se segue - o ambiente da actividade secreta militar dos EUA – apoiado, rigorosamente, por milhares de páginas de provas documentadas.
Nos últimos 70 anos, o Governo dos EUA travou uma guerra contra os seus cidadãos, uma história repreensível de experiências ilegais, anti-éticas e imorais, expondo incontáveis milhões de civis dos EUA a procedimentos e agentes patogénicos mortais. De acordo com uma investigação do Congresso dos EUA, no final da década de 1970 “pelo menos 500.000 pessoas foram usadas como sujeitos em experiências de radiação, biológicas e químicas, patrocinadas pelo governo federal dos EUA nos seus próprios cidadãos”. A verdade está na casa das dezenas de milhões.
O Departamento de Prestação de Contas dos EUA emitiu um relatório, em 28 de Setembro de 1994, afirmando que, entre 1940 e 1974, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e outras agências de segurança nacional estudaram centenas de milhares de seres humanos sujeitos a testes e experiências que envolviam substâncias perigosas.
Uma citação desse estudo:
Muitas experiências que testaram vários agentes biológicos em seres humanos, referidas como Operação Whitecoat, foram realizadas em Fort Detrick, Maryland, na década de 1950. Originalmente, eram aplicadas em homens recrutados como voluntários. No entanto, depois dos homens alistados terem feito uma greve para obter mais informações sobre os perigos dos testes biológicos, não foram realizados acompanhamentos com anotações, nem mantidos registos dos participantes. Mais tarde, os militares dos EUA alegaram ter informações de contacto com apenas, cerca de 1.000 dos participantes originais. [O] programa de Defesa Biológica dos Estados Unidos contém dezenas de divisões, departamentos, grupos de pesquisa, bio-inteligência e muito mais, não estando relacionados com a “defesa”, de modo algum”.
Do documento: American nuclear Guinea Pigs: Three decades of radiation experiments on U.S. citizens: Relatório preparado pela Subcomissão de Conservação de Energia, da Comisssão de Energia e Comércio, U.S. House of Representatives, Novembro de 1986: U.S. Government Printing Office, Washington, 1986, 65-0190
“Os seres humanos eram pessoas ou populações em cativeiro, que os pesquisadores poderiam considerar assustadoramente como “dispensáveis”: idosos, prisioneiros, pacientes hospitalizados que sofriam de doenças terminais ou que, talvez, não retivessem todas as faculdades mentais para dar um consentimento informado. ... nenhuma evidência que informasse, que o consentimento foi concedido ... o governo encobriu a natureza das experiências e enganou as famílias das vítimas falecidas sobre o que tinha acontecido ... os indivíduos receberam doses que se aproximavam ou até excediam, os limites actualmente reconhecidos para a exposição ocupacional à radiação. As doses eram até 93 vezes superiores à carga corporal (máxima) reconhecida”. O artigo prossegue: “Algumas das experiências mais repugnantes ou bizarras estão resumidas abaixo”.
Poucos americanos parecem cientes dos programas de experimentação humana do seu próprio governo, uma ladainha incontrolável de atrocidades executadas pela CIA e pelos militares contra uma população inocente e desinformada, sempre sem consentimento e, frequentemente, com resultados trágicos. Incluíam extensos programas de experiências de controlo da mente, experiências de interrogatório/tortura, infecção deliberada por doenças mortais ou debilitantes, exposição a radioactividade perigosa e todo tipo de agentes patogénicos químicos biológicos, bacteriológicos e tóxicos. Abrangiam lavagem cerebral, tortura, electrochoque, agentes nervosos, drogas e hipnose exótica e experiências cirúrgicas, incluindo lobotomias, e uma ampla gama de “pesquisas” farmacológicas, todas realizadas em vítimas civis inocentes, desinformadas e desamparadas, abarcando desde bebés recém-nascidos até a adultos.
As substâncias usadas - as "ferramentas do seu comércio" - incluíam LSD, heroína, morfina, benzedrina, maconha, cocaína, PCP, mescalina, metrazol, éter, gases nervosos VX e Sarin, produtos químicos tóxicos como sulfeto de zinco-cádmio e dióxido de enxofre, uma variedade de agentes biológicos, ácido sulfúrico, escopolamina, gás mostarda, isótopos radioactivos e várias dioxinas da Dow Chemical. Também usaram electrochoques, estrogénios sintéticos, células cancerígenas vivas, órgãos sexuais de animais transplantados para seres humanos, transfusões de sangue de vaca e muito mais. As doenças transmitidas deliberadamente incluíram sífilis, gonorreia, hepatite, cancro, peste bubónica, beribéri, cólera, tosse convulsa, febre amarela, dengue, encefalite e febre tifóide, doença de Lyme, febre hemorrágica e muito mais.
Foram realizadas experiências em crianças, órfãos, doentes e deficientes mentais, pobres, negros e prisioneiros que não tiveram outra escolha senão participar. Aos pacientes dos hospitais era-lhes dito que estavam a receber tratamento médico, mas eram usados como cobaias em experiências mortais. Nunca saberemos o número total das pessoas que morreram. Se não teme pesadelos, faça uma pesquisa sobre o programa MK-ULTRA da CIA. Muitos dessas experiências continuaram até ao final dos anos 90 e mais além, e muitas pessoas afirmam - e fornecem provas - de que ainda continuam hoje.
Estes programas de pesquisa em seres humanos foram financiados pelo Governo dos EUA e realizados, principalmente, pela CIA e pelas forças armadas, mas com total cooperação da maioria das principais universidades e hospitais. Eram altamente secretos e a sua existência só foi descoberta, muitos anos após estarem em funcionamento. Perante intimações judiciais para divulgar os registos, a CIA e os militares destruíram a maioria dos documentos, alguns sobreviveram somente devido a erros de arquivo e comunicação, as provas disponíveis cobrindo, apenas, uma parte minúscula das violações e das atrocidades cometidas.
“De 1960 a 1971, o Dr. Eugene Saenger, radiologista da Universidade de Cincinnati, expôs pacientes pobres e, principalmente, negros à radiação do corpo inteiro. Não lhes foi pedido para assinar formulários de consentimento, nem foram informados de que o Pentágono financiou o estudo. Os pacientes eram expostos, durante uma hora, a uma radiação equivalente a cerca de 20.000 raios-X. “A maioria dos pacientes morreu, mas o Dr. Saenger foi galardoado, recentemente, com a medalha de ouro por “Feitos extraordinários durante a sua carreira”, da Radiological Society of North America.
A partir da década de 1950, crianças com deficiência mental na Willowbrook State School, em Staten Island, Nova York, foram infectadas intencionalmente com hepatite viral, alimentando-as com um extracto feito com fezes de pacientes infectados. Saul Krugman, da Universidade de Nova York, prometeu aos pais das crianças com deficiência mental que os seus filhos seriam matriculados em Willowbrook em troca da assinatura de um termo de consentimento para os procedimentos que ele alegou serem “vacinas”. Na realidade, os procedimentos envolviam infectar, deliberadamente, as crianças com a hepatite viral.
Lauretta Bender: A Psiquiatra Do Inferno. Lauretta Bender era neuropsiquiatra no Hospital Bellevue, na década de 1940 e início da década de 1950 e foi pioneira na terapia de electrochoques em crianças pequenas que, inevitavelmente, regrediam a estados violentos e catatónicos, a maioria terminando morta ou na prisão. Mais tarde, Bender expandiu os seus tratamentos para incluir o LSD e, apesar da sua brutalidade desumana, o New York Times publicou um elogio fúnebre brilhante, quando ela morreu - como aconteceu com muitas dezenas de tais pessoas.
A partir de 1950, o Exército dos EUA realizou, pelo menos, 240 ataques deguerra biológica ao ar livre, nas cidades americanas, libertando agentes nervosos e bactérias mortais do Alaska ao Hawaii.A CIA libertou bactérias de tosse convulsa no mar, perto de Tampa Bay, Florida, provocando uma epidemia que deixou dezenas de milhares de pessoas extremamente doentes e matando muitas outras. A Marinha dos EUA simulou ataques de guerra biológica pulverizando grandes quantidades de bactérias sobre São Francisco, nas quais muitos cidadãos morreram e incontáveis doenças graves do tipo pneumonia. Quando a informação escapou, fontes militares insistiram que as bactérias eram inofensivas, mas milhares sofreram infecções do trato urinário e respiratórias perigosas, pneumonia e outras doenças, infecções permanentes: “Até hoje, estas bactérias são a causa principal de morte entre os idosos, na área de São Francisco”.
As forças armadas dos EUA realizaram cerca de 1.000 testes nucleares acima do solo para determinar os efeitos da radiação numa população. O Serviço de Saúde Pública foi doutrinado para informar os cidadãos afectados pelos testes de bombas nucleares a favor do vento, que os aumentos dos cancros eram devidos a neuroses, e Eisenhower ordenou que as mulheres com doenças provocadas pela radiação, abortos espontâneos, perda de cabelo, leucemia e cancro no cérebro fossem informadas de que estavam a sofrer da “síndrome de dona de casa”.
Um documento secreto da AEC datado de 17 de Abril de 1947, intitulado Medical Experiments in Humans declarava: "É desejável que não seja divulgado nenhum documento que refira experiências com seres humanos, que possam ter uma reacção adversa da opinião pública ou resultar em acções judiciais. Os documentos que abrangem este trabalho de campo devem ser classificados como Secretos”.
Um indicador da natureza insensível e obscena que sempre esteve presente no Governo dos EUA:
A Kodak começou a receber reclamações dos clientes sobre rolos de filmes embaciados. A causa do material de embalagem - as cascas de milho de Indiana contaminadas com radioactividade. O governo dos EUA concordou secretamente em fornecer à Kodak informações antecipadas sobre todos os testes nucleares futuros, incluindo a “distribuição esperada de material radioactivo para antecipar a contaminação local”. As vítimas agora dizem-nos: ... O Governo avisou a indústria fotográfica e forneceu mapas e previsões de possível contaminação. Onde estavam os avisos aos pais das crianças dessas áreas? O Governo protegeu os rolos de filme, mas não salvaguardou a vida dos nossos filhos. Por que é que eles fizeram isso quando tinham todas as informações sobre os pontos quentes e sobre as consequências, e ainda assim não alertaram as pessoas deste país sobre os perigos inerentes às consequências radioactivas?” O Governo deles não os alertou, porque eles eram os porquinhos-da-índia dos testes.
E não foi só a Guerra contra a América
Também está documentado, sem qualquer dúvida, que os EUA realizaram uma campanha de décadas de guerra biológica contra a pequena Cuba, incluindo a distribuição de febre hemorrágica e a gripe suína que levou Cuba a matar todos os 500.000 porcos existentes no país. Os americanos não só mentiram sobre esse assunto durante 70 anos, como também acusaram Cuba de ser “um Estado pária”, com um programa de guerra biológica. (1) E não só Cuba. Os EUA usaram armas químicas e biológicas no Canadá, Filipinas, Porto Rico, Colômbia, Brasil, China, Coreia do Norte, Vietname, Laos, Camboja e muitos mais.
Os EUA têm cerca de 400 laboratórios militares de armas biológicas espalhados (sobretudo, em países pobres e atrasados) em todo o mundo, incluindo novos na Geórgia, Ucrânia, Moldávia, Arménia, Azerbaijão, Uzbequistão e Cazaquistão, com várias nações a exigir agora, que esses laboratórios sejam desmontados e removidos para os EUA onde pertencem.
Os meios de comunicação têm sido notoriamente silenciados sobre o registo americano de fugas de agentes patogénicos biológicos, mas o CDC verifica que entre 2005 e 2012 os EUA tiveram 1.059 casos de roubo ou fuga de agentes patogénicos perigosos que escaparam da contenção. Um a cada três dias,durante sete anos. Este facto precisa ser resolvido porque há provas consideráveis de que a pandemia de gripe suína H1N1 nos EUA, em 2009, foi causada por uma dessas fugas, motivo pelo qual o CDC se recusou, durante 6 meses a identificar o agente patogénico ou avisar os cidadãos, permitindo que se espalhasse, silenciosamente, pelo mundo. Parece ter sido o mesmo agente patogénico que atingiu a Rússia, em 2016, proveniente do Laboratório Armas Biológicas das Forças Armadas dos EUA, situado em Lugar, na Geórgia. Trump afirmou, recentemente, que poderia matar toda a população do Afeganistão em poucos dias.
“O Afeganistão seria varrido da face da Terra. Teria desaparecido e sem usar energia nuclear. Teria acabado - literalmente - em 10 dias”.
As armas biológicas pareceriam ser a única alternativa. A Febre Hemorrágica e o Hantavírus funcionaram para os EUA na Coreia do Norte; talvez também no Afeganistão. Mais tarde, Trump negou a intenção de cumprir a sua ameaça, mas vamos abrir mão da ficção dos EUA não terem armas biológicas, de Fort Detrick e dos 400 laboratórios no estrangeiro, executarem só funções benevolentes de “medicina da paz”.
* * * Segue na Parte 2
Larry Romanoff, consultor de administração e empresário aposentado. Ocupou cargos executivos especializados em empresas de consultoria internacionais e possuía uma empresa internacional de importação e exportação. Professor Visitante da Universidade Fudan de Shangai, apresenta estudos de casos em assuntos internacionais a executivos especializados. Romanoff reside em Shangai e, actualmente, está a escrever uma série de dez livros, de um modo geral, relacionados com a China e com o Ocidente. Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com.
É pesquisador associado do Centre for Research on Globalization (CRG)
Notas:
(1) William Blum, Killing Hope: U.S. Military and CIA Interventions Since World War II [Common Courage Press, 1995]).
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com