Por
Larry Romanoff, December 03, 2020
O Isolamento
No início da epidemia, a China concretizou as medidas
mais abrangentes e rigorosas jamais tomadas. Wuhan foi isolada em 23 de
Janeiro, juntamente com várias outras cidades na província de Hubei, logo a
seguir e depois, toda a província. (1) O transporte público foi totalmente suspenso. Aeroportos, estações de
caminhos de ferro, centrais de autocarros e camionetes, cais de barcos cacilheiros
e transportes fluviais foram encerrados, todas as autoestradas e vias
principais com portagem foram fechadas e a maioria das estradas bloqueadas.
Todos os metropolitanos e autocarros pararam de circular, e todas as pessoas
deveriam permanecer em casa. O bloqueio inicial, no final de Janeiro, envolveu
cerca de 20 milhões de pessoas, chegando num mês, a cerca de 60 milhões, na época
em que a China tinha só cerca de 500 infecções. Esta alteração, sem precedentes
nos tempos modernos e sem dúvida uma decisão difícil de ser tomada, disse muito
sobre a gravidade da situação e sobre a seriedade com que o governo encarou a
ameaça à saúde pública. Nessa ocasião, o Presidente da China, Xi Jinping, emitiu
um aviso bastante sério e preocupante, afirmando que "Os governos de todos
os níveis são obrigados a tomar resolutamente todas as medidas preventivas para
conter a rápida propagação do vírus e ser completamente transparentes sobre a sua
situação local, a fim de que o país se possa unir para combater a pandemia e garantir que o mundo tenha uma imagem
verdadeira da situação”. Como Xi deixou claro, “Os erros do passado não se
devem repetir”.
Todas as evidências sugerem que as autoridades chinesas
agiram com eficiência, logo que perceberam o perigo que poderiam estar a
enfrentar.
Ao recordar os problemas do SARS, eles impuseram muito
mais restrições. Na maioria dos grandes centros do país, todas as instalações desportivas,
teatros, museus, atracções turísticas, todos os locais que atraem multidões,
foram encerrados, assim como todas as escolas. Todas as excursões em grupo
foram canceladas. Não só foi bloqueada a cidade de Wuhan, mas praticamente toda
a província de Hubei, com a paralisação de todos os comboios, aviões,
camionetes, autocarros, metros, embarcações, todas as vias de circulação e o
fecho das portagens. Foram cancelados milhares de voos e de viagens de comboio até
nova ordem. Algumas cidades como Shanghai e Pequim, estavam a efectuar testes
de temperatura em todas as estradas que conduziam às cidades. Além do mais,
Wuhan estava a construir dois hospitais portáteis de 25.000 metros quadrados
cada, para lidar com pacientes infectados. Wuhan pediu também aos cidadãos, que
não saíssem nem entrassem na cidade sem um motivo inadiável e todos estavam a usar máscaras.
A escala do desafio de concretizar esse bloqueio foi
imensa, comparável ao encerramento de todas as ligações de transporte de acesso
a uma cidade, com 5 vezes o tamanho de Toronto ou Chicago, dois dias antes do
Natal. Essas decisões não tinham precedentes, mas testemunharam a determinação
das autoridades em limitar a propagação e os danos desse novo agente patogénico. Não abordaram só a
gravidade da situação, como também a seriedade da sua consideração pela saúde
pública - decisões difíceis de serem
tomadas, visto que destruíam o usufruto do feriado a centenas de milhões de
pessoas. A maior parte dos espectáculos públicos foi cancelada, assim como as
excursões e muitos casamentos. O prejuízo para a economia, durante este período
que é o mais festivo de todos, foi enorme. Hong Kong sofrerá fortemente, além
de todos os outros problemas, pois que as visitas da China Continental
sustentam, geralmente, grande parte da economia de vendas a retalho, durante
este período.
E a comunicação mediática ocidental já estava a atacar
redondamente a China, (2) alguns a referir que os bloqueios e as quarentenas eram "uma
violação dos direitos humanos" e eram, de qualquer forma, ineficazes, com
Pompeo, do Departamento de Estado dos EUA, já a lamentar a "falta de
transparência" do governo chinês e o Imperial
College de Londres a argumentar que as infecções na China foram subestimadas
por um factor de dez. (3) E, claro, os amigos da China em Langley, Virgínia, estavam ocupados a
fazer postagens no Weibo, invocando que era "o fim do mundo" com
todos "à beira das lágrimas", enquanto o Guardian do Reino Unido afirmava, que "o pânico estava a
espalhar-se" na China. (4)
Uma semana após o isolamento de Wuhan, foi suspenso praticamente
todo o tráfego ferroviário e aéreo da China, para impedir o vírus de ter um
meio de transporte. Esta foi, obviamente, a parte mais estranha, com grande
parte da população prestes a viajar para casa para o feriado do Ano Novo
Chinês. Todas as áreas de concentração da população foram fechadas. Para evitar
aglomerações, foram encerrados restaurantes, shoppings, cinemas, museus,
mercados, centros turísticos e muitos lugares semelhantes e muitas fábricas foram seriamente
afectadas por dificuldades inesperadas de laboração, devido às
quarentenas. As medidas fortes, por mais eficazes que fossem, prejudicaram inevitavelmente,
algumas partes da economia chinesa e claro que causaram transtornos e algumas
dificuldades no dia a dia das pessoas, mas as medidas sem precedentes
produziram resultados positivos, com uma rápida diminuição de novas infecções.
Usando Shanghai como exemplo, no final de Fevereiro a
cidade submeteu a exames nos aeroportos da cidade, todos os viajantes de países gravemente afectados, a fim de evitar infecções importadas. Todos os
passageiros que chegavam, que moravam ou viajavam nos países mais afectados, foram submetidos automaticamente a uma quarentena de 14 dias em casa ou em
hotéis designados. (5) (6) Esses passageiros não foram autorizados a utilizar táxis ou transportes
públicos, mas foram conduzidos a locais de quarentena designados pelas
autoridades alfandegárias, onde estavam trabalhadores comunitários à espera deles,
com uma equipa de autoridades locais, um médico e um polícia para orientá-los
para a quarentena doméstica. Este grande grupo era formado por voluntários que
viviam temporariamente em hotéis próximos, evitando as suas residência devido
ao risco de propagação do vírus. (7)
Os estrangeiros foram considerados antecipadamente e foi-lhes
oferecida a assistência necessária das comunidades onde residiam, a fim de
solucionar as suas dificuldades após a entrada na cidade. (8) No início de Março, a China impôs grandes restrições às viagens aéreas de
entrada e efetivamente fechou as fronteiras. Quem não tinha residência e
emprego permanente em Shanghai não tinha permissão para entrar na cidade por
estrada, excepto por razões médicas. (9)O Governo Central suspendeu temporariamente a entrada no país de titulares
de passaportes estrangeiros, mesmo com vistos ou autorizações de residência
válidos, o que foi uma medida sem precedentes, mas necessária para prevenir
infecções importadas. (10) (11)
As áreas residenciais da maioria das cidades chinesas são
compostas por comunidades que são em grande parte independentes, semelhantes em
alguns aspectos aos condomínios fechados no Ocidente, tornando, certamente, mais
fáceis e eficazes, o isolamento e a quarentena, do que nos extensos subúrbios
da América do Norte. Na minha comunidade em Shanghai, por exemplo, a estrada
que conduz à comunidade foi bloqueada, o que significa que ninguém saiu, nem entrou.
Estavam disponíveis autorizações especiais para alguns tipos de viagens
oficiais ou necessidades médicas, mas na prática, eram poucas. Todas as
actividades comerciais da comunidade foram encerradas temporariamente, assim
como as escolas e os locais de encontro. Quase todos permaneciam em casa e,
quando eram necessárias breves excursões, usava-se sempre a máscara e evitava-se
a proximidade de outras pessoas.
Mas havia muito mais liderança e planeamento que não eram
visíveis. Imediatamente após a execução da quarentena comunitária, as
autoridades locais contrataram um grande fornecedor de alimentos para dar
continuidade às provisões. Foi projectado durante a noite um aplicativo online
para telemóvel, usado para fazer pedidos de todos os alimentos, vegetais
frescos e carnes. A cada dois ou três dias, um camião de entrega passava nas
barreiras e entrava na comunidade, os motoristas estavam proibidos de fazer
contacto humano. Cada pedido era embalado e lacrado separadamente e enviado
para o departamento do centro comunitário, onde os residentes podiam levantá-los
e pagar online após a entrega. Um sistema semelhante foi organizado para o
fornecimento regular de medicamentos. As entregas do correio eram depositadas
na barreira da estrada, onde os residentes podiam ir, um a um, levantar os seus
pacotes. Não foi esquecido nada e a participação cuidadosa foi mais ou menos
total. Permanecer em casa era considerado um dever cívico dos residentes da
comunidade, para se protegerem uns aos outros e prevenir a propagação do vírus.
Os seguranças locais foram extremamente úteis. Estavam bem informados sobre
todos os procedimentos, eram competentes a medir as temperaturas e capazes de
tomar decisões. Não tivemos uma única infecção.
Devido à maioria dos residentes permanecer isolada em
casa, os pedidos online e as solicitações de entrega aumentaram talvez dez
vezes mais e os supermercados e as plataformas de comércio electrónico de Shanghai
trabalharam intensamente para garantir o abastecimento adequado de alimentos
durante o isolamento. (12) O aumento da procura representou desafios porque muitos
fornecedores de alimentos e empresas de logística já tinham parado de trabalhar
durante o Festival da Primavera, mas as cadeias de abastecimento domésticas da
China são excepcionais, muito melhores do que as existentes em qualquer outro
país. Cada um dos grandes fornecedores providenciou rapidamente a distribuição
de cinco a dez vezes as suas quantidades diárias normais, trazendo, cada um deles,
centenas de toneladas de alimentos e organizando as distribuições à comunidade.
Ao mesmo tempo, muitas plataformas de comércio electrónico organizaram rapidamente
programas com os fabricantes para obter fornecimentos médicos urgentes,
incluindo máscaras, desinfectantes e roupas de protecção. A maioria criou áreas
especiais nos seus aplicativos de telemóvel para permitir que os residentes pudessem comprar facilmente todos os artigos necessários.
Liderança
Uma razão pela qual os chineses foram capazes de lidar
com a epidemia, enquanto o Reino Unido e os EUA tropeçavam no escuro, é que os
chineses pensam, com muita razão, que estiveram sob ataque biológico irregular,
desde 1950, portanto, estavam preparados com planos bem traçados e
organizadores competentes para responder a um acontecimento desses. Assim que o
governo central soube da natureza específica do surto, respondeu maciçamente e,
em grande medida, a população compreendeu a necessidade do que lhe era
solicitado e cooperou.
O Presidente chinês, Xi Jinping, disse: "O
Coronavirus é um Demónio e não podemos deixar esse Demónio esconder-se." (13) Disse que a China estava "perante a grave situação
de uma disseminação acelerada" do vírus, que "o povo chinês está a
travar uma batalha dramática contra o surto da nova pneumonia do coronavírus. A
vida e a saúde das pessoas são sempre a primeira prioridade do governo chinês,
e a prevenção e controlo da epidemia é a tarefa mais importante de momento,
então eu mesmo tenho estabelecido, iniciado e dirigido as operações."
O Snr. Xi deu a máxima prioridade, presidindo
pessoalmente a uma reunião da Comissão Permanente onde ouviu todos os
relatórios e decidiu, imediatamente, criar um grupo da Comissão Central do PCC
para supervisionar o esforço nacional, e enviar também um grupo de planeamento
de alto nível para Hubei, para dirigir o trabalho no terreno. (14) Logo após o surto ocorrer e o agente patogénico ser
identificado, um Grupo Central de Orientação apareceu em Wuhan para
supervisionar todos os esforços do COVID-19, para libertar a equipa médica das
responsabilidades de administração e planeamento e para assegurar que
recebessem tudo o que era necessário.(15)
Com esta liderança, os leitos hospitalares disponíveis de
Wuhan aumentaram de 5.000 para cerca de 25.000 em dez dias. Foi a partir daí
que centenas de equipas médicas e cerca de 50.000 médicos foram enviados de
toda a China para a província de Hubei. Foi desta liderança que surgiram os
confinamentos e as quarentenas, e foi desta liderança que as mortes na China
foram limitadas a pouco mais de 4.000, a maioria em Wuhan, sendo poupado todo o resto desta nação de 1 bilião e 400 milhões de pessoas.
Como é que a China o conseguiu? Não foi a "China".
Foi o povo chinês, a sua civilização e a sua cultura. Toda a sociedade chinesa
foi mobilizada, não apenas o Governo Central ou as autoridades médicas em
Hubei, mas todos os cidadãos, empresas privadas, empresas estatais e fundações,
avaliaram instantaneamente a sua capacidadde de ajuda e então agiram. (16)
Wuhan recebeu apoio em grande escala de toda a nação, não só para travar a
batalha, mas para se recuperar dos efeitos da guerra. Não foram unicamente os
isolamentos e as quarentenas a cortar os canais de fuga do vírus. Centenas de
milhões de chineses sacrificaram algo das suas vidas normais para conter a
propagação do vírus, agindo em uníssono e trabalhando juntos para alcançar uma
resposta colectiva. Os ocidentais nunca compreenderão esta atitude.
A comunição mediática dos EUA estava ocupada a destruir a
China, alegando uma "resposta lenta" ao vírus (enquanto ignorava, convenientemente,
os três meses perdidos no seu próprio país), mas os americanos compreendem apenas
vagamente (se é que percebem) a capacidade chinesa de agir rapidamente que,
para grande pesar de todos os americanos, em todos os lugares, se deve
principalmente a duas coisas - ao sistema político da China e ao socialismo
embutido no DNA cultural chinês. Embora o Ocidente de língua inglesa seja uma
cultura do tipo "cada um por si", os chineses são uma civilização e
agem em uníssono como tal, com o resultado de que, praticamente, estão todos unidos e de acordo, no que diz
respeito aos acontecimentos importantes para a nação. Assim, na ausência da competição de interesses privados e egoístas, um plano nacional pode ser
concebido, examinado, discutido, aprovado e executado num espaço de tempo muito
mais curto do que num país como os Estados Unidos - e com a total cooperação
e aprovação públicas.
O sistema político da China é muito mais unido do que no
Ocidente, tornando os governos locais responsáveis perante o governo
central, ao passo que nas nações ocidentais as autoridades locais são amplamente autónomas, tornando a
cooperação quase impossível. Assim, em tempos de
emergência, o isolamento burocrático evapora-se,
simplesmente, e a enorme força de trabalho do país torna possível a rapidez da execução sem sacrificar a qualidade. E, com a população em geral a partilhar
amplamente os objectivos da nação, as orientações sobre a maneira de agir, que
podem ser resistidas no Ocidente, são amplamente aprovadas na China. Devido à
excelente organização da China, o governo central tem a capacidade de mobilizar
rapidamente todos os recursos de que necessita. Construir um novo hospital em
dez dias ou uma nova ferrovia de alta velocidade no espaço de tempo de um ou
dois anos é uma mobilização liderada pelo governo da sociedade chinesa. Como a
China tem só um partido político e uma ausência completa de lutas internas
partidárias, o governo age em unidade com a população e, logo que seja
determinada uma directriz de acção clara e resoluta, toda a civilização chinesa
não só está ansiosa por participar, como também está disposta a sacrificar-se
para concretizá-la, algo muito difícil dos ocidentais imaginarem. Muitos
trabalhadores entrevistados pela CGTN sentiam-se orgulhosos de dizer que
dormiram apenas duas horas em três dias, durante a construção dos novos
hospitais. (17)
Martin Jacques disse:
"A capacidade da China para lidar com emergências deste tipo é muito mais desenvolvida e muito mais capaz do que poderia ser alcançada por qualquer governo ocidental. O sistema chinês, o governo chinês, é superior a outros governos para resolver grandes desafios como este. E há duas razões: em primeiro lugar, o Estado chinês é uma instituição muito eficiente, capaz de pensar estrategicamente e mobilizar a sociedade. E a outra razão é que os chineses esperam que o governo assuma a liderança neste tipo de questões e eles seguirão essa liderança."(18)
Como o número de infecções aumentou para além da
capacidade dos hospitais locais, atingindo no apogeu, 15.000 novos pacientes por dia o grupo de planeamento dirigiu a sua atenção: primeiro, para o
fornecimento de capacidade hospitalar adicional,(19) e então
planearam, projectaram e construíram dois hospitais novos enormes. Não eram
"quartéis frágeis e despojados", como foi descrito pela comunicação
mediática ocidental; observados a partir do interior, a sua aparência era
idêntica à de qualquer hospital moderno totalmente equipado. (20) (21) Eram unidades modulares de betão, projectadas para
montagem rápida, de maneira semelhante à colocação de contentores de transporte,
lado a lado, com instalação completa de ar condicionado, aquecimento, ventilação, pressão negativa, electricidade
abundante e muito mais. Depois de montadas, essas unidades funcionam como um
todo e são um hospital normal, com todos os equipamentos e instalações que
normalmente encontramos em qualquer hospital. O primeiro foi construído em dez
dias por 16 mil homens, em turnos 24 horas por dia. O segundo hospital era
maior e foi acabado em apenas 6 dias. (22) Para limpar e nivelar o local e colocar a infraestrutura,
havia 240 equipamentos de construção trabalhando no mesmo local, ao mesmo tempo
- também 24 horas por dia. A comunicação mediática chinesa publicou vídeos das diversas
fases do processo de construção, que eram verdadeiramente surpreendentes. Esses
hospitais foram construídos em várias cidades da província de Hubei.
Imediatamente após a conclusão do primeiro hospital, mais
de 3.000 médicos e enfermeiras de cerca de 300 hospitais de todo o país foram
enviados para trabalharem nesse estabelecimento. O grupo fez muito mais do que
construir hospitais. Foi criado um total de 16 hospitais provisórios através da
conversão de locais públicos, foram reformados vários hospitais existentes para
atender exclusivamente os pacientes do COVID-19 e mais de 500 hoteis, centros
de treino e centros de saúde foram convertidos em locais de quarentena. (23) Um hospital improvisado em Wuhan foi transformado de
centro desportivo numa clínica de tratamento de MTC (Medicina Tradicional Chinesa),
enquanto muitos centros de exposições e ginásios foram convertidos em hospitais
provisórios para os que apresentavam sintomas leves, mas que ainda precisavam
de quarentena. (24) Este Grupo de Orientação Central desempenhou um papel
insubstituível na batalha contra o vírus de Wuhan.
O que o mundo visivelmente não valoriza, é que, do total
de 4.600 mortes na China, 4.500 delas (98%) ocorreram na província de Hubei. Se
os dirigentes da China não tivessem isolado de imediato a cidade de Wuhan e
colocado, a seguir, toda a província em quarentena, o número de mortos poderia
ter sido de centenas de milhares. De acordo com um artigo publicado no final de
Março, na revista Science, (1) o co-autor Christopher Dye disse: "A nossa
análise sugere que, sem a proibição de viagens em Wuhan e a resposta nacional
de emergência, teria havido mais de 700.000 casos COVID-19 confirmados fora de
Wuhan em [Fevereiro]. (25) As medidas de controlo da China, funcionaram,
interrompendo de maneira bem sucedida, a cadeia de transmissão."
A maioria dos países asiáticos seguiu o exemplo da China,
com resultados semelhantes. Os Estados Unidos recusaram-se a fazê-lo,
permitindo que o vírus se propagasse livremente, por terem evitado os
isolamentos e as quarentenas e, no momento em que este artigo foi escrito,
parecia estar a caminho de pelo menos 100.000 (sendo a maioria) mortes
desnecessárias. A maneira americana de lidar com a epidemia era não fazer nada
e atirar pedras à China. (26) O Canadá fez o mesmo: Shanghai fica a apenas a duas
horas de Wuhan e não teve tempo para se preparar ou planear, mas teve apenas
algumas centenas de infecções e apenas 7 mortes. O Canadá, com uma população numericamente semelhante à de Shanghai, a 10.000 km de Wuhan e com meses para se preparar, teve
mais infecções e falecimentos do que toda a China junta.
Claro que não foi perfeito. Vamos aceitar que algumas
autoridades locais em Wuhan tiveram relutância em enfrentar a possibilidade de
uma grande epidemia num momento tão crucial e hesitaram em divulgar o facto de
que as mortes já estavam a ocorrer. Embora esse acontecimento tenha sido
realmente um constrangimento para a China, pode ser facilmente demonstrado que
o efeito líquido foi zero porque o trabalho de investigação médica continuou
inabalável e, assim que o novo agente patogénico foi descoberto, essa
informação foi tornada pública para a China e para o mundo. A relutância de
algumas autoridades locais em divulgar uma nova doença não causou atrasos de
qualquer tipo, seja na China ou internacionalmente, porque até àquela altura não
havia nenhuma informação a ser comunicada, a não ser o facto de que algumas
dezenas de pessoas tinham adoecido com uma infecção respiratória atípica. Todas
as acusações de que a China fez perder dois ou três meses de tempo de
preparação aos Estados Unidos, não passaram de uma jogada política juvenil,
porque as autoridades chinesas comunicaram tudo o que sabiam logo que tomaram conhecimento do mesmo.
Para o Ocidente, essa breve hesitação foi um grande factor
positivo, porque forneceu, no seu melhor, oportunidades ilimitadas (e aparentemente
intermináveis) para oportunismo político violento e opressor da China. Em
contraste, o descontentamento dentro da China foi real, tanto para o público
como para o governo central - que demitiu ou substituiu os mesmos
funcionários locais, de imediato. Como país, a China enfrenta os seus erros abertamente com
o público e age de prontamente de acordo. Comparem esta situação com a descoberta nos Estados Unidos,
de que a CIA operava a maior rede de prisões de tortura da História do mundo. O
que aconteceu? Muita reclamação da comunicação mediática, uma audiência
fraudulenta no Congresso, muitas informações ocultadas e suprimidas e todo o
assunto varrido para debaixo do tapete, removido do radar da comunicação
mediática e rapidamente esquecido. As prisões de tortura ainda estão abertas
hoje e só uma pessoa de menor importância pagou e foi sentenciada com uma pena
mínima. Até agora, todos os réus envolvidos mantiveram as suas posições e nada
mudou.
Para um estrangeiro que observava dentro desse país, o
governo chinês e o povo chinês foram corajosos ao assumir essa tarefa
formidável. Desde o início, colocaram a vida e a saúde das pessoas em primeiro
lugar. O Governo Central mobilizou toda a nação, organizou mecanismos
incalculáveis de controlo e tratamento e agiu com abertura e transparência, com
grande parte da população a fazer sacrifícios significativos sem, no entanto,
reclamar.
A coesão e a coordenação nacionais foram admiráveis.
Todos os 50.000 médicos da linha da frente e muitos outros que foram para Wuhan
eram voluntários, 90% deles eram membros do Partido que juraram "em primeiro
lugar, carregar o fardo do povo e só depois, usufruir o seu bem-estar".
Para os ouvidos ocidentais, isto levanta suspeitas e causa desconfiança como sendo
propaganda inútil e desnecessária, mas muitos desses funcionários da linha de
frente morreram naquela batalha. Para eles não era propaganda. Zhang Wenhong,
membro proeminente do Partido e Director do Departamento de Doenças Infecciosas
do Hospital Huashan, de Shanghai, disse: "Quando nos juntamos ao Partido,
jurámos que daríamos sempre prioridade aos interesses do povo e seguiríamos em
frente, perante as dificuldades. Este é o momento de cumprir a nossa promessa.
Todos os membros do Partido Comunista Chinês devem correr para a linha da frente. Não me importa o
que estavam realmente a pensar quando se juntaram ao Partido. Agora é o momento
de cumprir o que prometeram. Não me importa se concordam ou não: não é negociável. " (1) Esta atitude pode parecer consideravelmente autoritária para um ocidental, mas existia
muita bondade por trás destas palavras. Zhang disse mais tarde: "A equipa
de primeiros socorros colocou-se em grande perigo. Estão cansados e precisam de descansar.
Não devemos abusar das pessoas boas." Nessa altura,
ele substituiu quase todos os médicos da linha da frente por membros de diversos sectores.
Nós, ocidentais, não podemos compreender o facto da
sociedade e da cultura da China serem muito mais compassivas do que as nossas.
Os chineses dão muito mais valor aos idosos do que nós. Na China (como em
Itália), os avós e os idosos vivem com a família, nunca são enviados para os
asilos para viver e morrer mais ou menos sozinhos. Quando se percebeu que, sobretudo os idosos, estavam ameaçados de ter
uma morte prematura e dolorosa, os chineses colocaram toda a sua economia em ‘standby’
e a sua prioridade foi salvar essas pessoas.
Dr. Bruce Aylward, chefe da Missão Internacional da OMS,
disse: "Perante uma doença até então desconhecida, a China adoptou uma das
abordagens mais antigas para o controlo de doenças infecciosas e concretizou, provavelmente,
o isolamento mais ambicioso, rápido e agressivo de uma doença. A China, em toda a História, tomou medidas antiquadas,
como o procedimento nacional de lavar as mãos, usar máscaras, praticar o distanciamento
social e o controlo universal da temperatura. Mas então rapidamente, consoante
começou a evoluir, a resposta começou a mudar ... Então, eles aperfeiçoaram a
estratégia enquanto avançavam e este aspecto é importante, quando procuramos saber
como devemos usá-la daqui para a frente. A OMS está aqui desde o início desta epidemia, a trabalhar todos os dias com o governo da China ... A OMS
esteve aqui desde o início e nunca mais saiu." Disse ainda: "O que
mais me impressionou foi que todos os chineses tinham um forte sentido de responsabilidade
e dedicação em relação a contribuir na luta contra a epidemia". O Director-Geral da
OMS, Tan Desai, comentou: "A velocidade e a escala de acção da China são
raras ... Essa é a vantagem do sistema da China, e essa experiência valiosa,
vale a pena ser aprendida por outros países."
O Global Times
publicou um editorial intitulado: "Os milagres da China estão para além da
compreensão tendenciosa do Ocidente", do qual citarei aqui:
"A retórica que acusa a China de esconder a verdade já se
tornou uma banalidade. Estes supostos especialistas, nos EUA, presumem sempre
que a China está errada ou que não é confiável e então, tentam provar a
conclusão pressuposta com provas ambíguas e com uma lógica pervertida. Estão
acostumados a fixar os olhos em histórias fictícias sobre a China, mas poucos
estão dispostos a perceber o que realmente está a acontecer no país. Para esse país que deixou a epidemia sair do controlo, apesar dos avisos óbvios enviados
pela China, a luta contra o vírus da China é realmente um milagre. Mas para a
China, o resultado parece absolutamente normal e merecido, tendo em vista o
forte sentido de responsabilidade do governo pela vida das pessoas, a grande
capacidade de mobilização do sistema governamental e a firme disposição do povo
chinês em apoiar todas as medidas de isolamento. Em nenhuma parte isso poderia
funcionar como funciona na China e, portanto, não faz sentido aplicar os
modelos de qualquer país à China. A China tem feito milagres nas últimas
décadas graças aos tremendos esforços do governo e do povo. Desde a reforma e
da abertura, a China cresceu rapidamente, para se tornar na segunda maior
economia do mundo e tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza extrema.” (27)
O Lancet publicou
um artigo afirmando que "a China merece gratidão e não a crítica, por ter
lidado com a pandemia do COVID-19". O editor do Lancet, Richard Horton, referiu que os pesquisadores chineses
estavam a fornecer informações cruciais, mas ninguém no Ocidente estava a
prestar atenção, e não se prepararam. Em Janeiro, o The Lancet publicou cinco artigos que "contam o relato do que
se desenrolou no mundo ocidental nos últimos meses. Mostraram que surgiu um
vírus mortal que não tinha tratamento e que podia ser transmitido entre as pessoas.
Sabíamos tudo isto na última semana de Janeiro, mas a maioria dos países
ocidentais e os Estados Unidos da América desperdiçaram Fevereiro e o início de
Março antes de agirem. Essa é a tragédia humana do COVID-19. Graças ao trabalho
dos médicos e dos cientistas chineses a trabalhar em colaborações
internacionais, todas estas informações tornaram-se conhecidas em Janeiro, mas
por motivos difíceis de perceber, o mundo não prestou atenção. O resultado foi
que morreram desnecessariamente, milhares de pessoas." (28) Horton disse ainda que os ataques à China feitos pelos
políticos [americanos] eram injustificados. "Quero deixar registado e
agradecer aos meus amigos e colegas na China, que trabalham em Medicina e em
Ciência Médica, pelo que fizeram. Como
disse, considero que lhes devemos muito... Eles não merecem críticas,
merecem a nossa gratidão." E houve mais: em 15 de Maio de 2020, o The Lancet publicou uma avaliação
contundente da forma como a Administração Trump lidou com a epidemia de vírus,
na qual exortava todos os americanos a votarem na saída do Presidente Trump
[devido à sua incompetência]. “Os americanos devem colocar um Presidente na
Casa Branca, em Janeiro de 2021, que compreenda que a saúde pública não deve
ser regulamentada pelas políticas partidárias. (29)
O principal objectivo do Governo da China é o
rejuvenescimento do país, em parte comprovado pelos esforços determinados
feitos para a melhoria e para o bem-estar da sua população, o que se reflecte
na credibilidade e alto nível de confiança que o povo chinês deposita no seu
governo. Estes conceitos não existem no Ocidente. Nos Estados Unidos, o
"modelo do mundo para tudo", uma epidemia de vírus é vista através
das lentes do lucro das grandes empresas, as pessoas doentes não são seres
humanos que precisam de assistência, são apenas um novo "mercado"
lucrativo - para quem tem dinheiro para pagar. Um hospital americano não é um
lugar para curar enfermos, mas uma espécie de curral cheio de vacas leiteiras
para ordenhar. Esta é uma das razões fundamentais por trás da abordagem caótica
e desesperada dos Estados Unidos em lidar com a epidemia. A Administração Trump
falhou em ajudar-se a si própria e recusou-se a ajudar até mesmo os seus amigos,
por um lado ignorando o sofrimento e as dificuldades extremas da China e
perdendo o seu tempo marcando pontos políticos baratos no cenário mundial,
feliz com a perda de vidas e com os prejuízos económicos que a China estava a
sofrer.
A seguir: Parte 2
*
Os artigos do Snr. Romanoff foram traduzidos em 28 idiomas
e postados em mais de 150 sites de notícias e política de idiomas estrangeiros,
em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas em inglês. Larry
Romanoff, consultor administrativo e empresário aposentado, ocupou cargos
executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi
proprietário de uma empresa internacional de importação e exportação. Exerceu o
cargo de Professor Visitante na Universidade Fudan de Shanghai, apresentando
estudos de caso em assuntos internacionais para turmas avançadas de EMBA. O
Snr. Romanoff reside em Shanghai e, actualmente, está a escrever uma série de
dez livros, de um modo geral, relacionados com a China e com o Ocidente. O seu arquivo completo pode
ser visto em https://www.moonofshanghai.com/ e http://www.bluemoonofshanghai.com/ Pode ser contactado
através do email: 2186604556@qq.com
NOTAS:
(1) https://www.chinadaily.com.cn/a/202001/24/WS5e2a0374a310128217273141.html
(2)https://guardian.ng/news/china-locks-down-two-cities-to-curb-virus-outbreak/
(3) https://news.yahoo.com/china-warns-virus-could-mutate-spread-death-toll-030352863.html
(5) https://www.chinadaily.com.cn/a/202003/10/WS5e66fd23a31012821727dcaf.html
(6) https://www.shine.cn/news/nation/2003043372/
(7) https://www.shine.cn/news/metro/2001260649/
(8) https://www.shine.cn/news/metro/2003124131/
(9) https://www.shine.cn/news/metro/2002192363/
(10) http://www.chinadaily.com.cn/a/202003/28/WS5e7e9310a310128217282a28.html
(11) https://www.globaltimes.cn/content/1183923.shtml
(12) https://www.shine.cn/biz/economy/2001300922/
(13) https://www.rt.com/news/479403-china-xi-coronavirus-demon/
(14) http://www.qstheory.cn/zhuanqu/bkjx/2020-04/28/c_1125917119.htm
(15) https://www.shine.cn/news/nation/2004297248/
(16) http://en.people.cn/n3/2020/0420/c90000-9681452.html
(18)
http://www.chinadaily.com.cn/a/202003/19/WS5e72d148a31012821728052b.html
(19) https://www.chinadailyhk.com/article/129477#Medical-leader-calls-makeshift-hospitals-a-success
(22)https://www.wsj.com/articles/how-china-can-build-a-coronavirus-hospital-in-10-days-11580397751
(23) https://www.shine.cn/news/nation/2004287119/
(24) http://en.people.cn/n3/2020/0311/c90000-9666866.html
(25) http://www.xinhuanet.com/english/2020-04/25/c_139005866.htm
(26) http://en.people.cn/n3/2020/0428/c90000-9684857.html
(27) https://www.globaltimes.cn/content/1185403.shtml
Larry Romanoff é um dos autores que contribuíram para a nova antologia de Cynthia McKinney, ‘When China Sneezes‘.
Copyright
© Larry Romanoff,Moon of Shanghai,
2020
Tradutora: Maria Luísa
de Vasconcellos
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