By Larry Romanoff,
August 08, 2020
Traduzido em exclusivo para PRAVDA PT
CHINESE ENGLISH
NEDERLANDS SPANISH
Primeiro, vamos eliminar a noção convencionada de que a China
espia toda a gente e os espiões dos EUA não espiam ninguém. Há tantas provas
públicas para destruir estas duas afirmações que não me vou dar ao trabalho de
repeti-las. No entanto, vou recordar aos leitores que, há alguns anos, a China
proibiu, mais ou menos, o Windows 8 do país porque se descobriu que o Sistema
Operativo tinha uma porta traseira da NSA embutida[1] Parece
que a Alemanha divulgou primeiro esta ocorrência, mas a prova devastadora foi
numa conferência de Informática, quando um executivo da Microsoft foi
interrompido durante um discurso precisamente com esta acusação. [2][3][4][5][6][7][8][9] O orador não negou porque o indivíduo
que fez a acusação foi quem a descobriu e tinha consigo a prova, mas recusou-se
a discuti-la e mudou de assunto.
Mas este assunto dificilmente é notícia. Há quarenta anos foi provado que todas as máquinas fotocopiadoras Xerox entregues a embaixadas e consulados estrangeiros nos EUA estavam "preparadas para executar funções de espionagem"[10][11] Além do mais, pelo menos, durante 20 anos e talvez muito mais, era do conhecimento geral que, quando qualquer embaixada, consulados, bancos e outras empresas estrangeiras encomendavam computadores e hardware semelhante a fornecedores americanos, essas remessas eram interceptadas pela UPS, entregues à CIA e/ou à NSA para instalação de hardware e software "extra", antes da entrega aos respectivos destinatários. Esta situação foi uma das confirmações de Edward Snowden[12][13][14][15] Qualquer pesquisa sobre este caso dar-lhe-á milhões de visitas, a menos que a Google escolha esse momento para ficar sem memória.
Huawei
Os problemas de Trump com
a Huawei são duplos. O mais óbvio é que a China está a criar uma política de
medo quando se trata de inovação e invenção e Trump gostaria de abrandar esta
situação destruindo a Huawei e está claramente a fazer todos os esforços
possíveis a este respeito, incluindo intimidar e ameaçar metade do mundo
conhecido contra a utilização dos produtos Huawei. Mas esta é a parte mais
insignificante desta questão; o verdadeiro
problema é a espionagem. Não vale a pena contestar a afirmação de que a
Cisco e outras empresas americanas de hardware e software instalam back doors (uma forma não documentada de
obter acesso a um computddo ou aos dados nele contidos) em todo o seu
equipamento para facilitar o acesso da CIA e da NSA. Mas, de súbito, a Huawei
está a preencher a posição da Cisco e de outras empresas americanas com o seu
equipamento melhor e menos dispendioso.
Essa parte está perfeita, mas como é que a CIA e a NSA podem abordar
a Huawei e pedir à empresa que instale ‘back
doors’ no seu equipamento para que os EUA possam espiar a China – com
prioridade sobre todos os outros países? Não há outra solução para este
problema senão destruir a reputação da Huawei, acusando-a de ser uma ameaça de
espionagem e de conseguir que o equipamento dessa empresa seja banido. E isto aplica-se não só aos EUA, mas a
toda a Rede de Espionagem dos Five Eyes,
que abarca os EUA, o Canadá, o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia. [16]
Em resumo, esta Rede foi
criada para infringir as leis, enquanto fingia que nenhuma lei estava a ser
traansgredida. De um modo geral, é contra a lei que um governo espie os seus
cidadãos, mas essa lei não se aplica a um governo estrangeiro. Assim, o Canadá
espia os cidadãos australianos e envia a informação para os espiões
australianos que podem afirmar que não fizeram nada de mal. Lave e repita. A
parte triste desta história é que a "inteligência", ou seja, ”a
informação secreta” recebida é geralmente de pouco interesse para os quatro participantes
menores, mas toda ela é partilhada com
os EUA, que estão a ferver para espiar o mundo inteiro e apoderar-se de
"todas as comunicações" de todo o tipo, em todo o mundo. Assim,
não é basta proibir a Huawei só nos EUA, porque o equipamento desta empresa
iria anular o esforço da NSA nas outras quatro nações. Assim, existe a intimidação dos EUA para assegurar
que cada um dos seus ‘five eyes’ se livre da Huawei. E esta é toda a história, quer
gostem, quer não gostem.
Tik-Tok
O Tik-Tok não representa
nada importante, excepto que está em concorrência directa com plataformas
americanas semelhantes e provou ser demasiado popular e competitivo para ser
permitido sobreviver. Isto é apenas um tiro saído pela culatra contra a China.
Sem ameaça, sem nada. No entanto, tal como acontece com todos os produtos e
plataformas semelhantes, contém muita informação pessoal especialmente útil
para o marketing, que até agora tem sido propriedade privada de pessoas como o
Google, Facebook e Twitter. Assim, Trump mata dois pássaros com uma só cajadada:
ou simplesmente mata o Tik-Tok com alguma acusação falsa (se me permitem a
expressão) de espionagem, ou força uma venda a uma empresa americana. Seja como
for, a China perde maciçamente enquanto a opressão política e o valor de
marketing dessa informação pessoal permanecer em segurança nas mãos americanas
de confiança.
WeChat
Uma vez que poucos
americanos estão familiarizados com o WeChat, deixem-me descrevê-lo. Muitas
destas funções estão disponíveis no Ocidente através de várias plataformas, mas
nem sempre na mesma medida nem com a mesma comodidade.
Com o WeChat podemos
transmitir mensagens de texto e voz, fotografias e vídeos, e outros ficheiros
de qualquer descrição, mesmo de muitos Mb de tamanho. Podemos enviar e receber
tanto mensagens de texto como de voz em qualquer língua porque o WeChat tem uma
excelente função de tradução em combinação com um dos seus parceiros, que não
só traduz texto e voz, mas extrai e traduz todo o texto contido nas
fotografias, útil para menus de restaurantes se não conseguir ler chinês.
Podemos fazer não só chamadas de voz, mas também chamadas de vídeo para
qualquer pessoa em qualquer lugar que transmita através da Internet. É tão
conveniente que o WeChat é a opção de comunicação padrão para grande número de
pessoas com múltiplas finalidades. O WeChat tem também uma plataforma ‘Moments’
onde podemos publicar textos, fotografias, vídeos, que são visíveis para
aqueles que constam nas nossas listas de contactos enquanto seleccionamos
aqueles que podem e não podem ver, reservando algumas publicações para os
amigos próximos e outras, para o público, em geral.
Na China temos dois sistemas primários de pagamento online,
um operado pela Alibaba (chamado Alipay) e o outro pela WeChat. A sua
utilização é quase universal na China e ambos estes sistemas são gratuitos para
o utilizador.
Durante os últimos anos não me consigo lembrar de um único caso em que tivesse
dinheiro no bolso (mesmo alguns trocos) quando ia a qualquer lado ou comprava
qualquer coisa. Mesmo para comprar um pequeno ramo de cebolas verdes num
mercado de rua, o vendedor tem um código QR que o meu telefone digitaliza e o
pagamento na sua conta bancária é automático.
Com o WeChat, podemos enviar dinheiro uns aos outros. Se quisermos partilhar o custo do almoço, pode pagar a totalidade da conta e eu transfiro a minha parte para si através do WeChat. Se alguma vez precisar de dinheiro, posso ir a qualquer loja ou mesmo abordar um estranho e pedir 1.000 RMB e reembolsá-lo instantaneamente na sua conta WeChat. É frequentemente utilizado para transferir dinheiro internacionalmente desta forma, enviando dólares para um amigo num país e recebendo RMB para uma conta WeChat, na China. Instantâneo, seguro, e livre de todas as taxas. Tudo acontece num segundo, com uma mensagem de texto de confirmação do banco de ambas as partes da transacção. O WeChat é a principal razão pela qual as pessoas podem viajar para qualquer lugar na China apenas com um telemóvel, o passaporte (e uma muda de roupa). Deste modo, as pessoas podem comprar bilhetes de avião ou de comboio, pagar as tarifas de táxi e as contas do hotel, as contas de restaurante, através do WeChat.
Outra função útil do WeChat é a partilha de localização GPS
em tempo real.
Se um grupo estiver a viajar para um destino em vários carros, o WeChat exibe
um mapa GPS activo mostrando todos os locais no espaço e tempo reais. Se me
encontro com um amigo num centro comercial ou parque ou noutro local amplo, com esta função de GPS podemos ver a
localização um do outro em tempo real e sei qual o caminho a percorrer para
encontrar o meu amigo.
Temos grupos WeChat que
podemos criar com qualquer número de participantes para qualquer fim
conveniente. Durante o confinamento
obrigatório do COVID-19 em Shanghai, tivemos um grupo temporário WeChat para
comprar carne e verduras, que funcionava melhor do que qualquer supermercado e
com muito menos problemas. Se eu quiser organizar uma festa de Natal, formo
um grupo com as pessoas que tenciono convidar, e todas as nossas discussões e o
planeamento têm lugar dentro dessa plataforma. A maioria das comunidades
(pequenas porções de bairros residenciais) têm um grupo WeChat para notificação
de eventos comunitários e partilha de informação importante.
A questão das
"sanções" de Trump contra o WeChat é, em primeiro lugar, o facto de
que acabou por dificultar as comunicações internacionais de estudantes,
cientistas, diplomatas, jornalistas, para todos aqueles nos EUA que têm
comunicações frequentes com a China, efeitos sentidos mais seriamente
pelos que estão na China, o que é uma vantagem para Trump. Em segundo lugar, a
Administração Trump estava desconfortável, na medida em que o WeChat estava a
invadir o território do Twitter, do Facebook,do WhatsApp, do Instagram e de outras
redes, com cerca de 100 milhões de downloads nos EUA e as suas acções eram
destinadas a recuperar parcialmente esse território, proibindo simplesmente um
meio concorrente que ameaçava tomar conta e prejudicar seriamente a
popularidade das plataformas americanas com funções semelhantes.
Mas o mais importante foi
o papel de espionagem e censura da iniciativa de Trump.
À medida que o laço de censura se apertava em torno do Facebook e do Twitter,
os americanos estavam, naturalmente, a mudar para o WeChat. A verdadeira
questão não era que o WeChat representasse qualquer perigo para os EUA em qualquer
sentido, mas, tal como com a Huawei, a CIA e a NSA não podiam abordar o WeChat
e pedir a partilha automática de todos esses dados pessoais. Por
conseguinte, sob o pretexto de que a China não era digna de confiança, o governo
dos EUA simplesmente proibiu o WeChat e, portanto, ninguém nos EUA podia enviar
ou receber qualquer mensagem sem que a NSA tivesse uma cópia. Uma enorme
vantagem era que qualquer notícia que não se enquadrasse na narrativa oficial
seria então estrangulada à nascença, como o Google, o Facebook e o Twitter
estavam e continuam agora a fazer. Se a Microsoft ou outra empresa americana
comprasse o WeChat, então tudo estaria bem, uma vez que são as empresas
americanas, e não as chinesas, que automaticamente partilham com o seu governo,
todos os dados dos contactos pessoais dos cidadãos.
*
A obra completa do Snr. Romanoff está traduzida em 32 idiomas e postada em mais de 150 sites de notícias e de política de origem estrangeira, em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas em inglês. Larry Romanoff, consultor administrativo e empresário aposentado, exerceu cargos executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi detentor de uma empresa internacional de importação e exportação. Exerceu o cargo de Professor Visitante da Universidade Fudan de Shanghai, ministrando casos de estudo sobre assuntos internacionais a turmas avançadas de EMBA. O Snr. Romanoff reside em Shanghai e, de momento, está a escrever uma série de dez livros relacionados com a China e com o Ocidente. Contribuiu para a nova antologia de Cynthia McKinney, ‘When China Sneezes’ com o segundo capítulo, “Lidar com Demónios”.
O seu arquivo completo pode ser consultado em
https://www.moonofshanghai.com/ e http://www.bluemoonofshanghai.com/
Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com
*
Notas
[1] https://www.cnet.com/news/china-bans-windows-8-from-government-computers/
[2] https://www.rt.com/news/windows-8-nsa-germany-862/
[3] https://www.technobuffalo.com/nsa-windows-8-exploit
[4] https://wccftech.com/windows-nsa-backdoor-shadow-brokers/
[5] https://www.pcworld.com/article/2047332/is-windows-8-a-trojan-horse-for-the-nsa-the-german-government-thinks-so.html
[6] http://techrights.org/2013/06/15/nsa-and-microsoft/
[7] https://www.forbes.com/sites/daveywinder/2019/11/12/windows-10-security-alert-hidden-backdoor-found-by-kaspersky-researchers/
[8] https://www.neowin.net/forum/topic/1160914-how-nsa-access-was-built-into-windows/
[9] http://techrights.org/2013/06/15/nsa-and-microsoft/
[10] http://electricalstrategies.com/about/in-the-news/spies-in-the-xerox-machine/
[11] https://www.unz.com/lromanoff/state-sponsored-commercial-espionage-the-global-theft-of-ideas/
[12] https://www.extremetech.com/computing/173721-the-nsa-regularly-intercepts-laptop-shipments-to-implant-malware-report-says
[13] https://www.cbsnews.com/news/report-nsa-intercepts-computer-deliveries/
[14] https://www.computerworld.com/article/2487222/the-nsa-intercepts-computer-deliveries-to-plant-spyware.html
[15] https://www.infoworld.com/article/2608141/snowden–the-nsa-planted-backdoors-in-cisco-products.html
[16] https://americanfreepress.net/five-eyes-network-sees-all/
Traduzido
em exclusivo para PRAVDA
PT
Copyright
© Larry Romanoff, Moon of
Shanghai, Blue Moon of Shanghai, 2021
Tradutora:
Maria Luísa de Vasconcellos
Email:
luisavasconcellos2012@gmail.com
Website: Moon of Shanghai + Blue Moon
of Shanghai